Olhares

Pelotas em todos os sentidos

Diário Popular convida o leitor a circular pela cidade neste sábado; bom encantamento

Paulo Rossi -

A umidade no ar denuncia, amigo visitante: estamos em Pelotas. Aqui mora o tempo, em seus estados distintos. Os casarões guardam um pedaço importante da história, enquanto outra parte resiste à sombra das senzalas das charqueadas. O presente respira na arte - não apenas em sua definição literal, mas na obra individual e coletiva de cada cidadão, em vencer as próprias barreiras, e esboçar um sorriso largo. Em escolas, graduações e tecnólogos o futuro é cuidadosamente construído, livro a livro. Pelotas é como a Flor do sal, de Mario Osorio Magalhães - não por acaso, o historiador homenageou sua cidade berço com o poema homônimo. Por vezes espinhosa, noutras colorida.

Pela retina
Pelotas está na literatura há mais tempo, no entanto. Desde os contos regionalistas de João Simões Lopes Neto, que viveu até 1916. A obra do autor é reverenciada com um instituto que leva seu nome. Ainda, o acervo da Bibliotheca Pública conserva as suas e outras histórias. Está localizada no Centro Histórico, coração da cidade, que carrega na imagem a própria narrativa. Basta levantar o olhar, caro amigo, para testemunhá-la - acima de nós sempre há algo a refletir. Por este trecho da cidade, pulsa uma arquitetura de outros séculos, gravada na fachada das edificações.

A praça Coronel Pedro Osório concentra cultura, desde a árvore Pau-Brasil, erguida em um canteiro, até obras de Antônio Caringi, que se defendem do tempo. A importância da atividade do escultor não é somente local: nascido aqui, é considerado o maior estatutário da história da arte no Rio Grande do Sul. Já distante da efervescência da zona central, o Museu da Baronesa encena o passado. E os vitrôs das charqueadas nos oferecem cores quentes e frias. Através deles desenhamos o tom que preferimos enxergar. Mais adiante, no trajeto pela água, os ponteiros do relógio parecem parar ao testemunharmos o pôr do Sol à beira do Arroio Pelotas, no Recanto de Portugal.

Para ouvir
Ainda lá de cima, a beleza vem. Livre de vícios, o olhar de Vitor Ramil para o céu estrelado que abraça a praia do Laranjal lhe inspirou a compor versos como: “É bom saber/Que és parte de mim/Assim como és/Parte das manhãs”, da canção Estrela, estrela. Ramil é artista daqui e, apesar de sua obra rodar o mundo, não abandona o pago de frio estético. Além dele, Kleiton e Kledir, Celso Krause, Serginho da Vassoura e Luiz Marenco - para citar alguns - cantam sua obra por diferentes Pelotas. Sem esquecer do talento dos músicos que elevam o Festival de Jazz. A verdade é que Pelotas brada múltiplos artistas e abre cortinas para novas vozes ecoarem, seja nos palcos do Theatro Guarany, do João Gilberto Bar, do Sofá na Rua ou em uma mesa do Mercado Central, em que os sábados são musicais com o Chorinho do Mercado. Sábados, aliás, de ouvir, ver e rever - na parte externa, as manhãs são preenchidas pelas antiguidades exibidas no Mercado das Pulgas.

Para respirar
Pelotas também é dos cheiros. Na avenida Rafael Dias Mazza, um aroma bastante característico: a produção de biscoitos da fábrica Zezé. Ou, então, o cheiro do couro ao encilhar os cavalos na colônia. Há um cheiro de tradição, também, entre as ruas 15 de Novembro e 7 de Setembro. Cercado de vidro, o Café Aquários atravessa gerações. É um clichê que não perde a validade. Sobre seus balcões, debruçaram-se xícaras e ideias de uma Pelotas antiga - que, com olhares, muitas vezes oprimia a passagem de mulheres pela calçada do café e, porém, hoje, recebe famílias de dentro e fora do território municipal. O Aquários é uma experiência intimamente pelotense.

Pelo toque
E basta sair dele para sermos injetados por mais particularidades locais. Do chão também vem bagagem. Pelotas de tocar com as mãos e os pés; está no desnível dos paralelepípedos e no frio dos ladrilhos hidráulicos. Criados para expressar arte e religiosidade, vinham de Portugal, da França e da Bélgica, no final do século 19. O segredo das técnicas de manufatura do ladrilho foi revelado aos imigrantes residentes e, então, as primeiras peças começaram a ser manipuladas no país. A Fábrica de Mosaicos, por exemplo, existe desde 1914 em Pelotas.

Para provar
Historicamente, a cidade é conhecida pelo doce. Foram nos bastidores das cozinhas das sinhás que as escravas confeccionavam as receitas hoje tradicionais. De origem portuguesa, há 30 anos seu histórico é celebrado na Fenadoce, que pode ser visitada até o dia 12 de junho. Mas Pelotas também é salgada. A culinária de estabelecimentos como o Restaurante Chu e a Churrascaria Lobão atrai apaixonados pela alta gastronomia. No Madre Mia! saboreamos a fusão latina no prato cercado de trabalhos de artistas locais a decorarem as paredes. É uma cidade de refeições emblemáticas - já provou os pastéis do Papuera Bar e os do Pontal da Barra? São pratos nos quais a simplicidade dá o sabor. Há alternativa aos veganos também: o restaurante Libre! é especializado no assunto, do almoço aos cafés - tudo é orgânico.

Naturalmente plural
Aqui, quando somos agradecidos, respondemos: “merece”. É uma maneira de também ser doce. A doçura, tão referenciada a Pelotas, banha o Laranjal de areia grossa. Água que nem sempre é gentil aos pescadores da Colônia Z-3, ao insistir em responder com silêncio às suas redes. A persistência de quem vive da pesca é também encontrada no campo. A cada temporada de plantio e colheita de arroz e soja, os produtores anseiam que a natureza sopre a seu favor. A Expoarroz e a Expofeira nasceram para debater o cenário agropecuário. Ah, o campo! As cachoeiras da colônia nos convidam a escutar nossos pensamentos. A carga da energia rural nos devolve para nós e para os nossos. Sem medo de tecer erros: Pelotas é o encontro de todos os sentidos. 

“Aparece lá!”
Centro Histórico

Entorno da praça Coronel Pedro Osório

Café Aquários Rua 15 de Novembro, 602

Restaurante Chu Rua Andrade Neves, 3.800

Churrascaria Lobão Avenida Bento Gonçalves, 3.460

Madre Mia! Santa Cruz, 2.200

Libre! Praça Coronel Pedro Osório, 61

Papuera Bar Rua Alberto Rosa, 51

Pastelaria Pontal da Barra Avenida Antônio Augusto Assumpção, praia do Laranjal

João Gilberto Bar Rua Gonçalves Chaves, 430

Fenadoce Avenida Presidente João Goulart com a BR-116

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